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RESENHA DE LIVRO: A metamorfose, de Franz Kafka

Franz Kafka (1883-1924), escritor tcheco de língua alemã, foi um dos mais importantes do século XX, teve uma vida marcada por uma relação difícil com seu pai, além de complicados relacionamentos afetivos, e por fim, pela Tuberculose. Suas obras são desenvolvidas num mundo de pesadelo, onde a solidão do indivíduo, indefeso diante do poder, predomina. Por conta de sua escrita, houve a criação do termo” kafkiano”, usado tanto em português como em outras línguas, para designar as situações e conceitos que fazem parte de suas obras.

Em um dos momentos de sua vida Kafka fez parte, junto com outros escritores da época, da Escola de Praga, que era um movimento de criação artística alicerçada em uma grande atração pelo realismo, uma inclinação à metafísica e uma síntese entre uma racional lucidez e um forte traço irônico. Apesar de pertencer ao realismo, muitos críticos já o colocaram em inúmeras outras escolas literárias (ROSCHEL, 2016).





Na sua obra A Metamorfose, escrita em 1912, dois anos antes do início da Primeira Guerra Mundial, traz, segundo alguns autores, um clima de agonia e pessimismo, por conta deste cenário mundial da época. Diante disto, a história se inicia com a apresentação do personagem principal, Gregor Samsa, um caixeiro-viajante, que ao acordar de uma noite de sono se vê transformado num gigantesco inseto. Gregor pensa em volta a dormi, para quem sabe acordar daquele delírio, na sua posição natural de homem, mas mal conseguia se mexer.

Mesmo estando naquela posição, Gregor passa a pensa no seu trabalho, de como era enfadonho e não fornecia a si uma realização pessoal ou profissional. Em trechos do livro, Gregor explica como iniciou seu trabalho e que só o mantinha por conta do dinheiro, e da dívida que seu pai contraiu com o seu chefe. Nesse ponto pode-se observar, que Gregor se encaixa na categoria do Homo Economicus, Administração Cientifica de Taylor, visto que o mesmo, só trabalhava por conta da sua remuneração (PERIARD, 2012).

Após pensa no trabalho Gregor olhou para o despertador e viu que estava atrasado, e diante daquele estado preferiu não ir trabalha, com isso todos de sua família acabam se dirigindo para o quarto, no intuito de saber o que se passava com o jovem que não era de falta o emprego, até o chefe de Gregor aparece. Ao descobrirem o ocorrido, todos ficam apavorados, o chefe do escritório acaba saindo em disparada.

Durante o desenrolar da trama, além das consequências da metamorfose que o personagem principal passa, é de salientar ainda, as mudanças comportamentais na família do protagonista, que passa a despreza-lo. Seu pai, sua mãe e irmã, que antes não trabalhavam, passam a trabalhar, e alugam um quarto para três inquilinos.

No início Grete (irmã) ainda tinha certa esperança que Gregor voltaria a ser como era, ajudando, desta forma, a mantê-lo mais confortável na sua situação atual. Mas no decorrer, ela para de limpar o quarto do irmão, nem liga mais se ele está comendo ou não, e nem tenta manter alguma comunicação. Grete perde toda a sua compaixão e acha que o melhor é se livrar de Gregor logo, visto que para ela seu irmão já não se encontrava ali.

Gregor, vendo aquela situação, se enfurece e se entristece, ao mesmo tempo que fica angustiado por não poder fazer nada para ajudar a sua família. O mesmo lembra ainda do dia que seu pai arremessou maças nele, sendo a maçã encravada e apodrecida nas suas costas, o símbolo do ódio da sua família. Logo depois, Gregor acaba morrendo. Ao ver que Gregor morreu, a família sai de casa feliz, já não pensavam mais nele, e começaram a ter mais esperança no futuro.

Kafka mostra na obra três períodos da relação da família perante Gregor, onde no primeiro momento, ela sente medo dele, num segundo o aceita, mas o esconde do mundo, e já no terceiro o odeia, rejeita e vê ele apenas como um peso desnecessário (ABC, 2012).

Ademais, na primeira parte do livro, pode-se observar que a história está inserida /se dá numa sociedade disciplinar, a qual é caracteriza pelo comando social que é construído por meio de uma rede difusa de dispositivos que produzem e fazem a regulação dos costumes, dos hábitos e práticas produtivas (MENDES, 2012). Levando em conta esta definição, em trecho do próprio livro, Gregor cita um dos meios de controle que se faz presente no seu trabalho:


E, mesmo que apanhasse o trem, não conseguiria evitar uma reprimenda do chefe, visto que o porteiro da firma havia de ter esperado o trem das cinco e há muito teria comunicado a sua ausência. O porteiro era um instrumento do patrão, invertebrado e idiota. “(A metamorfose, p.2).


Além do porteiro, o chefe do escritório representa um dos dispositivos (vigilância hierárquica) disciplinares presente na obra, em meio ao fato dele aparecer inesperadamente na casa de Gregor, simplesmente por conta da sua falta na firma, o que pode-se observar em outro trecho:


Gregor apenas precisou ouvir o primeiro bom dia do visitante para imediatamente saber quem era: o chefe de escritório em pessoa. Que sina, estar condenado a trabalhar numa firma em que a menor omissão dava imediatamente asa à maior das suspeitas! Seria que todos os empregados em bloco não passavam de malandros, que não havia entre eles um único homem devotado e leal que, tendo uma manhã perdido uma hora de trabalho na firma ou coisa parecida, fosse tão atormentado pela consciência que perdesse a cabeça e ficasse realmente incapaz de levantar-se da cama? Não teria bastado mandar um aprendiz perguntar[...]. (A metamorfose, p.5)


Deste modo, apesar da mudança drástica ocorrida na vida de Gregor, é de se constatar que o caixeiro só consegue se desvincular do automatismo, da dominação e da alienação das atividades diárias e da rotina, na condição de inseto.


Referência Bibliográfica


ABC DA MEDICINA. A Metamorfose Franz Kafka – Critica e análise da sociedade capitalista. Disponível em:< http://www.abcdamedicina.com.br>. Acesso em: 20 Nov. 2016.

KAFKA, Franz. A Metamorfose. PDF. Disponível em: < www.culturabrasil.org >. Acesso em: 24 Out. 2016.

MENDES, Iba. Foucault e Deleuze do poder disciplinar. Disponível em:< http://www.ibamendes.com >. Acesso em: 20 Nov. 2016.

PERIARD, Gustavo. Tudo sobre a administração científica de Taylor. Disponível em:< http://www.sobreadministracao.com>. Acesso em: 20 Nov. 2016.

ROSCHEL, Renato. Franz Kafka. Disponível em:<http://almanaque.folha.uol.com.br>. Acesso em: 20 Nov. 2016.

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