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RESENHA DE LIVRO: “O Ateneu” de Raul Pompeia.



O Ateneu” é um livro escrito por Raul Pompeia e é considerado um romance representante do realismo na literatura brasileira. Raul nasceu em 1863, morando boa parte da vida no Rio de Janeiro. Apesar de O Ateneu ser a sua obra de maior destaque, também escreveu outros romances, além de contos e poemas.


O livro reflete parte da infância do autor, que assim como o protagonista da história, estudou em um internato quando criança. Devido a essa semelhança, pode ser considerado que a escola e alguns personagens do livro são reais e servira


m de inspiração. Narrado em primeira pessoa, o personagem principal Sérgio relata suas experiências e lembranças, seja dos amigos ou dos amores, tratando como parte do seu amadurecimento social, mas não só isso, como alguém que sente falta e tenta encontrar sua identidade.


Logo de início, temos o diálogo de despedida entre ele e seu pai, uma típica conversa onde deixa o filho livre para buscar conhecimento, deixando de ser um garoto e começando a ser homem. O discurso era comum entre os jovens da época e a escola era que daria essa oportunidade a eles. O colégio era famoso por seus métodos de disciplina e formação de caráter moralista, buscava fazer do rapaz rebelde um homem correto e com futuro promissor. O maior representante dessa política era Dr. Aristarco, o diretor do internato.

A obra critica o comportamento, tanto do diretor quanto dos pais, que buscavam resolver os problemas que os filhos representavam com uma disciplina imposta duramente. Aristarco utiliza aquilo que Foucault denomina de dispositivos disciplinares. Como o clássico diretor autoritário a qual os alunos se submetem, são controlados, vigiados e punidos (quase sempre), dessa forma, o diretor é o único reconhecido como líder, afinal ele exerce poder e utiliza os dispositivos sobre os seus alunos.


O Ateneu, de Raul Pompeia

Um dos exemplos disso é a parte do livro onde Sérgio faz referência a Franco, um aluno que tirava notas baixas e era costumeiramente punido por suas rebeldias: “A nota do Franco, sempre má, devia seguir-se especial comentário deprimente, que a opinião esperava e ouvia com delícia, fartando-se de desprezar. Nenhum de nós como ele! E o zelo do mestre cada dia retemperava o velho anátema. Não convinha expulsar. Uma coisa destas aproveita-se como um bibelô do ensino intuitivo, explora-se como a miséria do hilota, para a lição fecunda do asco. A própria indiferença repugnante da vítima é útil. Três anos havia que o infeliz, num suplício de pequeninas humilhações cruéis, agachado, abatido, esmagado, sob o peso das virtudes alheias mais que das próprias culpas, ali estava, — cariátide forçada no edifício de moralização do Ateneu, exemplar perfeito de depravação oferecido ao horror santo dos puros.” (POMPEIA, 1996, p.16). Ele descreve como os professores criticavam e zombavam dele, por ser o mau exemplo de aluno (aquele que nenhum devia seguir) num local tão moralizador quando o Ateneu.


Contundo, Foucault também estabelece: “onde há poder há resistência e, no entanto (ou melhor, por isso mesmo) esta nunca se encontra em posição de exterioridade em relação ao poder” (FOUCAULT, 1988, p. 104-105). E como no clipe da música: Another Brick The Wall da banda americana Pink Floyd, onde os alunos que eram submetidos a normas extremas na escola se rebelam, um dos discentes do Ateneu, o novato Américo, supostamente põe fogo na escola. Em repúdio contra seu pai, pois este desejava que o filho aprendesse a obedecer a regras.

Foucalt afirma: “para compreender o que são relações de poder talvez devêssemos investigar as formas de resistência e as tentativas de dissociar essas relações” (1999, p. 234). Numa inversão hierárquica do poder, quem era vigiado e punido acaba exercendo domínio a partir de sua resistência. Pondo fim ao símbolo máximo da submissão, controle e ordem, que era escola de Aristarco.


REFERÊNCIAS

FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (1975/1976). Tradução de Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 1999. Coleção Tópicos.

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1988.

POMPÉIA, Raul. O ateneu. 16ª ed., São Paulo: Ática, 1996 (Bom Livro). Disponível em <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000297.pdf>. Acesso em 10/01/2017

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